Depois de uma nova escalada que começou no dia 26 de novembro, com apostas altistas para o vencimento dos contratos futuros de 29 de novembro na B3, dia em que o dólar alcançou o recorde de R$ 6,1153, as cotações que esfriaram desde a semana passada e começaram a cair ontem quando cresceu no mercado a certeza de alta forte na Selic, que encarece o carregamento das posições especulativas em dólar, houve uma espécie de movimento de gangorra: foi o juro da Selic subir e o dólar despencar até R$ 5,93, uma queda de 0,40%, às 11:45.
E o comportamento de recuperação do real frente ao dólar se afastou do desempenho de outras moedas em relação ao curso norte-americano. O euro subia 0,14%, a libra esterlina desvalorizava 0,18%, o dólar caí 0,175 frente ao iene, subia 0,35% frente ao franco suíço. Os dois parceiros da Alca que serão atingidos pelos aumentos de tarifas de Trump, também sofriam: o dólar subia 0,11% ante o dólar canadense e valorizava 0,17% diante do peso mexicano.
O choque do juro real
A leitura que se faz da estratégia do Banco Central é de concentrar a batalha de reversão das expectativas inflacionárias no primeiro trimestre de 2025. O juro alto esvaziaria a especulação com o dólar e esfriaria o consumo, para esperar os impactos positivos da previsão do IBGE de que a safra de grãos de 2024/25, cuja colheita começa em janeiro/fevereiro, com previsão de alta de 7%, derrube a inflação dos alimentos.
Depois de baixar 1,00% em julho e 0,44% em agosto, os preços dos alimentos subiram forte de setembro a novembro (3,1%, contra 1,39% de variação do IPCA) pelos impactos reais e especulativos dos incêndios e estiagem no Sudeste e Centro-Oeste. A alta dos alimentos acumula variação de 6,44% de janeiro a novembro, contra 4,29% de aumento do IPCA no mesmo período.
A previsão de 314,8 milhões de toneladas é quase o retorno aos 315,4 milhões t. de 2023, maior safra da história. Segundo o IBGE, a safra de soja deve crescer 12,9% e a de milho (1ª safra) tem previsão de expansão de 9,5% - ambas com grande impacto baixista nos preços das rações animais, amainando as altas das carnes bovinas, suínas e aves. E o arroz cresce 6,5%.
Mas o juro real é que dá um salto enorme. Com 12,25% para a Selic em dezembro, contra a previsão de uma inflação de 4,8%, o juro real (descontada a inflação) seria de 7,1%. A maior taxa de juro real anterior tinha sido em junho de 2023, quando a Selic em 13,75%, contra 3,16% de IPCA em 12 meses, gerou juro real de 10,26%. Agora, com a Selic em 14,25% em março e previsão do IPCA abaixo de 4,50%, o juro real subiria para 9,33%. Se a inflação despencar a 4%, o juro real seria de 9,8656%.
Efeitos nefastos na indústria e no Arcabouço
Para a indústria e as empresas que estavam fazendo investimentos de modernização ou transição energética, a escalada dos juros reais será um baque tremendo, afetando a Taxa Interna de Retorno (TIR) do bloco dos investimentos. Por isso, a indústria condena a decisão do Copom.
A alta dos juros tem duplo efeito na política fiscal, do Arcabouço Fiscal. De um lado, provoca alta brutal nos custos da dívida pública. Cada um ponto de alta nos juros onera, segundo o Banco Central, em R$ 55 bilhões o serviço da dívida ao longo de 12 meses. A alta de três pontos impacta em R$ 165 bilhões. Mais de R$ 100 bilhões acima da economia de R$ 60 bilhões esperada no pacote fiscal em discussão no Congresso para 2025 e 2026). E, de outra parte, ao esfriar a economia e o consumo, a alta de juros desacelera a arrecadação, afetando uma das bases do Arcabouço.
Ou seja, o choque de juros precisa ter vida curta e êxito imediato para reduzir o efeito bumerangue negativo no Arcabouço fiscal
Para Itaú, Copom deu choque de credibilidade
Mas, ao analisar a decisão do Copom, o Itaú diz ter sido o esperado pela maior parte do mercado financeiro. E considerou que “a medida foi motivada pelo comportamento desfavorável das expectativas de inflação, que dispararam nas últimas semanas, e por um hiato do produto ainda mais positivo”.
O Itaú observa que “curiosamente, embora todos os membros do conselho tenham votado pelo aumento de 100 p.b., o texto não mencionou que a decisão foi unânime. Isso, em nossa opinião, levanta a possibilidade de que não houve consenso sobre a sinalização, algo que saberemos na ata da reunião, a ser divulgada na terça-feira, 17 de dezembro, e possivelmente no Relatório Trimestral de Inflação, na quinta-feira (19)”.
“Alternativamente, embora menos provável, alguns membros podem ter optado por um ritmo diferente de aumento, digamos 75 p.b., mas acabaram apoiando a maioria para minimizar ruídos. Por enquanto, esperamos que a taxa básica seja elevada em 100 p.b. na próxima reunião de política monetária, e muito provavelmente na seguinte também”, conclui o Itaú.